Com a promessa de ser um "pacificador", Donald Trump retornou à Casa Branca em janeiro de 2025. Menos de seis meses depois, essa promessa parece cada vez mais distante. No sábado (21), o presidente americano ordenou ataques aéreos contra três instalações nucleares no Irã, um movimento que coloca os Estados Unidos diretamente no epicentro da crescente tensão entre Irã e Israel.
Em um discurso televisionado à nação, transmitido pouco após anunciar os bombardeios em suas redes sociais, Trump classificou a operação como um “sucesso espetacular”. Ao lado do vice-presidente JD Vance, do secretário de Estado Marco Rubio e do secretário de Defesa Pete Hegseth, ele afirmou que a ação visava impedir que o Irã se tornasse uma potência nuclear, e disse esperar que o ataque abrisse caminho para uma paz duradoura.
Entretanto, os sinais no terreno indicam o oposto. O regime iraniano confirmou danos em sua instalação nuclear de Fordow, embora os tenha classificado como “menores”. O aiatolá Ali Khamenei prometeu uma retaliação, o que amplia os temores de uma escalada bélica na região — e além.
A decisão de Trump ocorre em meio a um impasse diplomático que parecia promissor. Na semana passada, ele havia dado ao Irã um prazo de duas semanas para uma rendição incondicional. Mas o que seriam 14 dias viraram apenas dois. A ofensiva militar veio antes de qualquer sinal público de ruptura nas negociações, alimentando especulações de que as tratativas lideradas por Steve Witkoff, conselheiro especial para a paz no Oriente Médio, fracassaram ou nunca foram levadas a sério.
A ofensiva dos EUA reacendeu críticas internas e internacionais. O secretário-geral da ONU, António Guterres, advertiu que o Oriente Médio está “à beira de uma espiral de caos”. Analistas alertam que o conflito pode se tornar incontrolável, com potencial para atrair outras potências e provocar uma guerra de grandes proporções.
Internamente, Trump enfrenta pressão de dois lados: dos democratas, que acusam o presidente de precipitar uma guerra sem respaldo do Congresso, e de setores de seu próprio movimento “América em Primeiro Lugar”, tradicionalmente contrários a intervenções militares. O vice-presidente Vance, conhecido por seu posicionamento mais contido na política externa, tentou suavizar o impacto, afirmando que o presidente ainda merece o benefício da dúvida.
A presença dos principais nomes do governo ao lado de Trump durante o discurso foi vista como uma tentativa de projetar coesão. No entanto, se os ataques não se limitarem a uma única ação e evoluírem para um conflito mais amplo, o presidente poderá enfrentar divisões em sua base e um alto custo político — além dos riscos geopolíticos já visíveis.
Trump, que no primeiro mandato se vangloriava de não ter iniciado nenhuma guerra, agora assume um papel ativo num conflito com potencial devastador. A promessa de paz foi substituída por ameaças de novos bombardeios. “Há muitos alvos restantes”, avisou o presidente, prometendo agir com “velocidade, precisão e habilidade” caso o Irã não abandone seu programa nuclear.
Por ora, o mundo aguarda a resposta iraniana. E os americanos, a próxima jogada de um presidente que mais uma vez decidiu arriscar alto.