Na tarde da última segunda-feira (24), a Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT) realizou uma audiência pública em Pontes e Lacerda para discutir os graves desafios enfrentados pelos produtores de leite da região oeste do estado. O encontro, exigido pelo deputado estadual Gilberto Cattani (PL), teve como objetivo buscar soluções para as principais demandas do setor, que envolvem o aumento no custo de produção, o baixo preço pago pelos laticínios e os constantes atrasos nos pagamentos.
Durante a audiência, os produtores relataram em manter a continuidade das atividades devido ao descompasso entre o valor investido na produção e o retorno financeiro obtido com a venda do leite. Segundo Cattani, há denúncias de que indústrias da região estariam controlando os preços e limitando a atuação de novos laticínios, o que pode configurar um cartel.
— Os produtores nos procuraram reclamando do preço do leite na região e de um certo controle das indústrias. Disseram que não podemos buscar outras alternativas para comercializar o leite. Isso é grave e precisa ser investigado. Se permanecermos convictos de que existe cartel, vamos agir com firmeza — declarou o deputado.
Cattani também questionou a diferença entre o preço pago ao produtor e o valor final do produto nos supermercados.
— O leite está custando R$ 6,90, R$ 7,50 na prateleira, enquanto o produtor recebe pouco mais de R$ 2,80. Não é justo. No mínimo, metade do valor final deveria ser repassado ao produtor — completou.
Luciano Rodrigues Gomes, presidente da Associação dos Produtores de Leite da Região Oeste (APLO), destacou que, embora tenha havido avanços nos últimos anos, os custos de produção aumentaram muito e os atrasos nos pagamentos agravaram ainda mais a situação.
— Hoje temos mais de 700 produtores em 22 municípios que enfrentam atrasos de até 120 dias para receber. O custo aumentou demais e o valor pago pelo leite não cobre as despesas — lamentou.
A coordenadora de Mulheres da Agricultura Familiar, Rita Júlia de Souza, reforçou o impacto social da crise:
— Muitas famílias vivem exclusivamente do leite. Se o preço não melhorar, fica impossível continuar na zona rural. Estamos sobrevivendo com muita dificuldade — afirmou.
A Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) também declarou preocupação com o cenário. A extensionista rural Rafaela Sanches lembrou que, mesmo com investimentos em tecnologia e genética, a baixa remuneração desestimula a permanência no campo.
— Não adianta investir na melhoria da produção se o produtor não conseguir vender por um preço justo. Além disso, os atrasos nos pagamentos tornam tudo ainda mais insustentável — destacado.
Representando a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec), Milene Vidotti garantiu que as demandas serão levadas à pasta para análise e encaminhamentos conjuntos com os municípios, a Assembleia e os produtores.
Durante a audiência, algumas soluções foram desenhadas. Entre os encaminhamentos planejados estão as previsões da construção de um silo de leite , que podem melhorar a logística de armazenamento e permitir a comercialização com laticínios de outros estados, como Rondônia, ampliando o escoamento da produção.
Outra proposta é a estruturação de uma cooperativa de produtores para possibilitar a industrialização do leite na própria região. O prefeito de Pontes e Lacerda anunciou a possibilidade de doação de um imóvel para a Coopervale, como incentivo à instalação da cooperativa no município.
— precisamos garantir melhores condições aos produtores, com tecnologia, assistência técnica e apoio ao cooperativismo. Isso é fundamental para fortalecer o setor — afirmou o prefeito.
O deputado Cattani também se compromete a estudar uma proposta de legislação que obriga o pagamento pontual aos produtores, como forma de proteger o setor dos prejuízos causados pelos atrasos.
— A ausência dos representantes dos laticínios hoje mostra que não estão interessados em resolver a situação. Precisamos garantir que o produtor receba em dia e de forma justa — concluído.
A audiência reuniu amostras de produtores rurais, representantes de associações, autoridades municipais, estaduais e membros de entidades ligadas ao setor produtivo do leite.
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